Seguro paramétrico de índices climáticos é novidade no setor agrícola
Nova modalidade traz vantagens para o agronegócio, que têm receitas e custos de operação diretamente impactadas por ocorrências climáticas.
O seguro paramétrico de índices climáticos, lançado com exclusividade pela seguradora Swiss Re Corporate Solutions no Brasil, é a mais nova modalidade disponível para empresas dos setores do agronegócio e de energia. O gatilho da cobertura é o comportamento de um índice de um determinado evento climático, como chuva, temperatura ou vento, por exemplo. No momento que o índice monitorado é superado, a cobertura é efetivada. Por isso, a contratação é mais barata e o pagamento mais rápido.
Os dados utilizados como parâmetro para os seguros são obtidos junto a estações meteorológicas oficiais e satélites, ou seja, fontes confiáveis e transparentes para a apuração dos resultados. Em caso de chuva, por exemplo, um dos indicadores é a precipitação média de uma determinada época do ano em uma taxa acordada entre a seguradora e o segurado. Ele é, portanto, diferente do modelo tradicional, pois baseia-se em um índice.
Muita chuva em um período que deveria ser seco pode atrasar a colheita, afetar a qualidade do produto ou causar a quebra da safra em certas culturas. O mesmo vale para longos períodos de estiagem que causam perdas de produção e atrasam o plantio. Em ambos os casos, o pagamento da indenização será em função da variável meteorológica observada.
Sendo assim, cada apólice é emitida a partir de um detalhado estudo do negócio do cliente e a definição de parâmetros como volume de precipitação (milímetros de chuva), vazão de um rio, temperaturas extremas, excesso de vento, irradiação solar, variações de temperaturas e índices de El Niño.
Exemplos de culturas afetadas por eventos climáticos não faltam. Foi assim em 2009, na Argentina, quando uma seca nacional provocou 35% de quebra na safra de soja. No ano seguinte, a Austrália registrou perdas de 40% em sua safra de grãos, com excesso de chuva da costa Leste e seca prolongada na costa Oeste. Não faltam casos semelhantes em outros países e, em especial, aqui no Brasil, quando, em 2014, as regiões Sudeste e Centro-Oeste sofreram com a pior seca dos últimos 85 anos.
Do ponto de vista da gestão financeira e de risco da empresa, essa nova modalidade de seguro traz os seguintes benefícios:
estabiliza o fluxo de caixa, minimizando o risco de crédito e reduzindo a volatilidade nos lucros da empresa;
minimiza a exposição a preços mais altos de commodities, em caso de necessidade de compra adicional;
reduz a exposição à perda de qualidade da cultura;
atua diretamente no foco do risco.
Simulação
Vamos imaginar que um produtor agrícola precisa planejar a sua operação de colheita dentro de um prazo específico, caso contrário, os frutos começarão a estragar ainda no campo e, com isto, haverá perda de produtividade e qualidade. Neste caso, a colheita ocorre durante o mês de março e deve ser paralisada nos dias com chuvas (acima de 4 mm/dia) e/ou com temperatura máxima acima de 35°C.
A colheita está planejada para ser realizada durante 16 dias e deverá começar no dia 1° de março, terminando dia 31. Ou seja, o produtor tem 15 dias de folga em seu cronograma, considerando que imprevistos podem acontecer nesse período. Contudo, se a colheita tiver que se estender para além do dia 31 de março, estima-se uma perda de 3.000 kg de produção. Com um custo de produção de R$ 5/kg, suas perdas são estimadas em R$ 15.000/dia não colhido acima do prazo.
Neste caso, o produtor pode solicitar um seguro baseado nos índices de temperatura máxima e de precipitação diária, que irão corresponder diretamente ao número de dias em que ele fica sem colher. Essa apólice protege o impacto causado por dois tipos diferentes de evento climático, que podem ocorrer no período específico de colheita, que é o mais crítico para o produtor nesse exemplo.
Case
No final do ano passado, foi emitida a primeira apólice de seguro paramétrico para o setor de agronegócio no Brasil. O cliente foi a Agrícola Xingu. O contrato abrange 46,5 mil hectares de soja, milho e algodão em nove unidades distribuídas pelos estados da Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso, regiões que sofreram forte estiagem nos últimos anos – o que impactou diretamente a produtividade das fazendas. Depois de alguns meses de estudos, a Xingu e a Swiss Re Corporate Solutions chegaram a um desenho customizado de apólice, com gatilhos e parâmetros específicos para cada região e cada cultura.
Setor elétrico
Além do agronegócio, o seguro paramétrico atende também às empresas do setor elétrico, sejam elas geradoras ou comercializadoras. A lógica é a mesma: proteção a um evento climático. Por exemplo, a primeira apólice emitida no Brasil foi para uma comercializadora de energia. O índice monitorado para determinar o pagamento das indenizações neste caso é a ENA (Energia Natural Afluente) dos sub mercados Sudeste e Centro Oeste.
O índice é medido diariamente pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão independente responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Brasil. Caso o ENA fique abaixo de 90% da média de longo prazo (MLT), a Swiss Re Corporate Solutions pagará as indenizações previstas na apólice, assegurando a compensação financeira pelos prejuízos sofridos pela empresa segurada.
Sobre o autor
José Cullen é o diretor responsável pela operação de seguros rurais da Swiss Re Corporate Solutions para toda a América Latina. Possui 20 anos de experiência no setor de seguros, é graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade de Buenos Aires, Argentina, e é mestre em Ciências pela Universidade Wageningen, Holanda.