Armazenamento inadequado compromete a cobertura do seguro
O Brasil está passando por um período de super safra, especialmente para soja e milho, se tornando um dos maiores produtores mundiais. Esse benefício gerou um excesso de mercadorias estocadas e uma guerra de preço entre os produtores, revendedores, originadores e distribuidores.
Empresas com alta capacidade de produção e armazenamento estão sendo forçadas a armazenar as mercadorias por um maior período de tempo, visando obter um benefício com a oscilação do preço da commodity no futuro. Essa alta capacidade produtiva pode ser observada em regiões do Mato Grosso e Paraná (com produção de milho superior a 35% se comparada ao ano de 2016). O armazenamento prolongado ou excesso de produtos parados em silo bags, galpões de vinilona, big bags e “sites” ao ar livre, muitas vezes sem a correta proteção, expõe a produção e gera riscos para as empresas do setor agrícola. Algodão e sementes, por exemplo, exigem um armazenamento que respeite um nível mínimo e máximo de temperatura, além de ser altamente inflamável. Hoje há alguns locais de soja armazenada a céu aberto, no Mato Grosso, com altíssimo grau de exposição e elevado volume. Existem, por exemplo, armazéns antigos de café, milho e soja adaptados, mas de pequena duração, sendo uma solução temporária e pouco apropriada.
Ponderar corretamente a capacidade de armazenamento e os impactos de alocar mercadorias em espaços “temporários”, conforme os citados acima, demandam tempo e muitas vezes investimento em tecnologia. Com o aumento da produção e a queda do preço das commodities, o produtor opta por manter o seu estoque, com isso, Canadá e Estados Unidos estão investindo fortemente no mercado brasileiro com um exemplo de inovação para esse cenário através de um sistema que prevê a fácil instalação de uma estrutura pré-montada e modular. Além de possuir um armazenamento eficiente, esse modelo faz uso de um sistema de aeração com fluxo de ar de acordo com a necessidade do produto.
O mercado segurador possui restrição na aceitação de armazenagens temporárias e com pouco grau de proteção, podendo essa solução inovadora ser uma alternativa válida para todos os elos da cadeia agrícola. Finalmente, é importante e altamente necessário existir uma comunicação prévia entre seguradora e cliente para avaliar a real exposição desse tipo de situação. A falta de infraestrutura de armazenamento junto a super safra está tornando complexa tal antecipação. Portanto é importante se atentar para esse cenário, já que impacta diretamente a gestão de risco das empresas do setor.
* Julia Guerra é diretora de agronegócio da JLT Brasil.