Desastres naturais comprometeram safras de laranja e maconha legalizada nos EUA
A produção de laranja da Flórida vai cair 21% por causa dos danos causados pelo furacão Irma, que atingiu a região na segunda semana de setembro deste ano. Será a menor colheita em 71 anos. Os produtores de laranjas do estado, o maior produtor dos EUA, colherão 54 milhões de caixas (cada uma com 90 kg) nesta safra, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Os rendimentos com algodão também diminuíram em estados atingidos pelo furacão Irma e pelo furacão Harvey, que atingiu o Texas e a Costa do Golfo. A produtividade estimada no Texas, o maior produtor de fibra dos EUA, caiu 10%. A mesma queda de produtividade se observou no estado da Geórgia.
Segundo estimativas do USDA, o furacão Irma causou um prejuízo de US$ 2,5 bilhões à agricultura americana. Só no caso da laranja, são mais de US$ 760,8 milhões em perdas. “O caminho do furacão Irma não poderia ter sido mais letal do que foi”, disse o Comissário da Agricultura da Flórida, Adam Putnam. Os deputados estaduais da Flórida, inclusive, estão solicitando ajuda imediata do governo federal, já que existem muitas áreas que não foram totalmente recuperadas.
Incêndio
Para muitos produtores de maconha do Norte da Califórnia serão necessários anos para reconstruir o que foi perdido com incêndios recentes que atingiram a região. Em alguns casos, nem isso será possível.
Nos últimos dias, pelo menos seis fazendas de Cannabis foram destruídas. É o que diz Hezekiah Allen, diretor executivo da California Growers Association, entidade ligada ao segmento. O número de áreas atingidas pelos incêndios pode ser ainda maior, já que as comunicações foram afetadas e os produtores não puderam se aproximar para avaliar os danos causados pelo fogo.
A apreensão é ainda maior porque os produtores de maconha nos Estados Unidos não têm acesso ao seguro rural, um instrumento consolidado na agricultura, principalmente quando se trata de soja e milho. Esses empresários também têm dificuldade de acessar linhas de financiamento, já o governo federal não permite crédito para empresas ou negócios que não estejam de acordo com a legislação do país. A maconha, por exemplo, é legalizada apenas em alguns estados americanos. Não no país inteiro. Isso significa que os produtores terão que arcar com todos os prejuízos sozinhos. “Os sonhos e esperanças de muita gente para a legalização da cannabis foram transformadas em cinzas ou cobertas de fumaça agora”, disse Allen.
O governador da Califórnia, Jerry Brown, decretou estado de emergência em oito cidades, já que 21 grandes incêndios queimaram cerca de 190 mil hectares de terras desde quinta-feira (12), de acordo com o Departamento de Silvicultura e Proteção contra Incêndios da Califórnia. Ao todo, 23 pessoas morreram, 20 mil foram evacuadas e, pelo menos, 3,5 mil estruturas foram destruídas. O Serviço Nacional de Meteorologia emitiu avisos de alerta indicando um risco significativo de aumento na atividade de incêndios florestais.
A Califórnia legalizou a maconha para uso medicinal em 1996 e para fins recreativos em novembro do ano passado. As vendas da indústria chegarão a US$ 5,8 bilhões até 2021, de acordo com a unidade de pesquisa da empresa de investimentos de cannabis, Arcview Group. Só no ano passado, a planta movimentou US$ 1,8 bilhão.
A oportunidade desencadeou a chamada “Corrida Verde”. Mas o preço para entrar neste mercado é alto. Os agricultores devem pagar por licenças. Eles também lidam com riscos relacionados ao clima, como os agricultores tradicionais, mas sem acesso a serviços bancários ou a capacidade de amortizar as despesas comerciais com impostos.
O status federal ilegal da cannabis bloqueou os produtores de qualquer tipo de seguro de colheita. “O cânhamo é classificado como uma substância proibida segundo a lei federal, não é elegível para o seguro nacional de colheitas”, disse Heather Manzano, administrador interino da Agência de Gerenciamento de Riscos. A agência supervisiona o seguro do governo para os agricultores.
Enquanto algumas companhias de seguros específicas de cannabis começam a aparecer, elas podem não cobrir as plantas destruídas pelo fogo, já que são novas e ainda não viveram esse tipo de experiência. Uma seguradora, a Cannasure, com sede em Cleveland, só oferece seguro de responsabilidade civil ou de responsabilidade geral para cannabis cultivadas em ambientes fechados. “É justo dizer que esta é uma colheita sem seguro”, disse Allen.
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