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Safra de perdas no trigo desestimula produtores do RS

Produção deve ter queda de 38% no Estado e colocar em oferta cereal de menor qualidade. Com preço baixo e dificuldade para cobrir custos, expectativa é de diminuição da lavoura em 2018.



A lavoura de trigo foi terreno fecundo só para lamúrias neste ano. A cultura, que nas últimas três safras teve problemas de clima ou preço, em 2017 conseguiu sofrer com ambos. O resultado é um novo desestímulo que tende a reduzir ainda mais a área cultivada no Estado, já inferior a 700 mil hectares, a menor extensão desde 2006.


Pelo lado do tempo, o rosário de adversidades começou com a chuva que atrasou o plantio, no final do outono. Depois, faltou umidade para as plantas se desenvolverem bem. Para completar, o excesso de precipitação em outubro, na pré-colheita, levou a qualidade do grão por água abaixo. O trigo impróprio para a indústria de pães e biscoitos agrava o segundo lado da crise.


Não bastasse o preço já estar baixo pela grande oferta mundial e pelo crescimento da produção da Argentina nos últimos anos, a remuneração pelo produto sem as propriedades buscadas pelos moinhos é ainda menor e o destino, provavelmente, será a venda para produção de ração animal, o que ainda pode acabar pressionando a cotação do milho.


As estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que o Estado deve colher 1,53 milhão de toneladas, 38% abaixo do ano passado, quando teve produtividade recorde, mas preços baixos. O analista de mercado Élcio Bento, da Safras & Mercado, lembra que, devido aos problemas de qualidade, nem os mecanismos oficiais de sustentação de preços, utilizados na última safra, teriam resultado.


— Neste ano, nem PEP ou Pepro vão conseguir tirar do mercado este trigo de baixa qualidade — diz Bento.


No Planalto Médio, a queda no rendimento foi de cerca de 50%, relata o gerente regional adjunto da Emater em Passo Fundo, Claudio Doro.


— A produtividade é baixa, a qualidade é ruim e o faturamento é totalmente insuficiente para cobrir o custo da lavoura. A maior parte dos produtores vai recorrer ao Proagro, ao seguro agrícola e terá dificuldade para pagar o financiamento. A sensação, no momento, é de uma tendência de redução de área generalizada — diz Doro, lembrando que, a despeito da boa colheita do ano passado, os produtores gaúchos já plantaram menos em 2017.


Segundo Doro, a produtividade média na região é de 30 sacas por hectares. O necessário para cobrir apenas o custo da lavoura é o dobro, lembra Jardim, da Farsul. Além dos problemas internos, nos últimos dois anos os produtores do sul do país também ganharam concorrência mais forte da Argentina, que cresceu após a eliminação de impostos à exportação com a troca do governo. Melhores condições de solo, custos menores para insumos e maquinário agrícola e logística, por exemplo, fazem o país vizinho ser mais produtivo do que o Brasil e conseguir colocar trigo nos moinhos de São Paulo a um valor muitas vezes mais baixo do que o grão do Paraná, por exemplo.


Para mais informações acesse: https://gauchazh.clicrbs.com.br

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