Falta de profissionais atrapalha pagamento de seguro agrícola
Com a quebra da safra de soja anunciada desde dezembro de 2021, os produtores rurais correram para fazer o resgate das apólices de seguro emitidas como cobertura da produção.
Esse movimento quase que sincronizado, deixou a indústria de seguros sobrecarregada a ponto de criar dificuldades para o atendimento da demanda.
Esta reportagem abordou diversos profissionais ligados à área de seguros e da produção agrícola que deram um panorama mais detalhado do que ocorre no estado.
Como a quebra iniciou-se primeiramente no Paraná, vários vistoriadores e corretores foram deslocados para o estado vizinho para dar conta do alto volume de trabalho.
Com isso, Mato Grosso do Sul, ao iniciar a colheita, no final de janeiro, já começou a período com defasagem maior de profissionais.
Daiana Lemos Artheman é responsável pela área técnica de seguros da Coperplan, empresa que presta serviços de planejamento e consultoria agropecuária em Dourados, ela é categórica ao dizer que os trabalhos de vistoria estão lentos na região.
“Está ocorrendo muito atraso nas vistorias por falta de mão de obra”, conta. Profissionais da área consultados pelo Correio do Estado afirmaram que sofreram com a enxurrada de pedidos de recuperação sinistros.
Corretor de seguros, Luciano Lemos afirma que recebe diversos relatos de profissionais sobre alta quantidade de sinistros sendo acionados.
“Os vistoriadores que conheço dizem que a demanda é muito alta, tem muitas vagas abertas e poucos profissionais para atender os pedidos que chegam”, relata.
Outra dificuldade enfrentada é o pouco tempo disponível para treinar os novos trabalhadores. Com a alta demanda esse tempo é reduzido ao máximo.
Custos
Produtor rural, agrônomo e consultor, Vilson Brusamarello relata que houve uma evolução significativa na forma como o seguro é praticado.
"Houve uma mudança muito grande nos últimos dez anos. Na prática, há o seguro sobre faturamento e sobre a produção”. Vilson explica que no primeiro caso, há uma previsão de colheita, na qual o preço da saca é travado na hora da contratação e no segundo é tido o custo da colheita como base.
O agrônomo relata que a região sul do estado sempre foi um local com dificuldades na produção.
Ex-presidente do sindicato rural de São Gabriel do Oeste, Vilson afirma que para cada um real investido pela seguradora na região dele, o custo ficava em torno de R$ 0,35.
Já na região sul para cada um real de investimento no sul do estado representaria um custo de R$ 3,5 a R$ 4,00.
Advogado especializado em agro, Aryell Vinícius ressalta que a “seguradora faz uma revisão da capacidade de produção, da forma de armazenamento, secagem e estocagem antes da safra”. Isso tudo seria calculado para formar o preço do seguro.
Vilson Brusamarello avalia o custo do seguro entre 6% e 10% do custo para a colheita. Já Aryell ressalta que dependendo do histórico do contratante o custo pode chegar até a 15% do custo.
Seca e demora
Conforme Daiana Artheman explica, a seca foi mais severa logo após a fase de germinação. “O estrago foi mais significativo porque ocorreu na época de enchimento de grãos. A planta se desenvolveu, houve germinação e, infelizmente, no momento que mais necessitava de chuva, houve a estiagem”.
Profissionais relatam que além do período de seca severa na região sul, houve um atraso no pedido feito pelos produtores. Como já noticiado pelo Correio do Estado, o produtor rural faz o relato do sinistro, esse pedido é enviado a uma central que o distribui para as prestadoras de serviço responsáveis por emitir o laudo.
A partir daí, o pedido é ofertado às prestadoras que têm um prazo para aceitar o serviço, sempre considerando algumas regras.
Vistoriadores que conversaram com a reportagem apontam que a demanda não “esquentou” muito nos meses de novembro e dezembro, quando as chuvas já vinham abaixo do esperado para o período.
Os produtores começaram a acionar as apólices de 30 dias para cá, e foi nesse represamento que o sistema acabou ficando sobrecarregado.
Como as prestadoras não conseguiriam atender, os pedidos acabaram retornando à central para serem ofertados novamente, causando um efeito bola de neve na indústria.
Se o pedido fosse feito antes, especialistas afirmam que eles poderiam ser atendidos com mais rapidez.
Para mais informações acesse: https://www.correiodoestado.com.br/
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