PROBLEMAS CAUSADOS PELA SECA AO MILHO GAÚCHO SE APROFUNDAM
O mercado está menos preocupado com a situação das lavouras de milho do Rio Grande do Sul do que deveria, e essa impressão começa a ganhar força entre analistas de mercado. Desde seu primeiro levantamento para a safra 2022/23, divulgado em outubro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já reduziu em 11,2% a estimativa para a colheita no Estado, para 5,13 milhões de toneladas – e as projeções podem diminuir ainda mais.
Segundo Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, a aparente “calmaria” em relação aos problemas nesta temporada de verão decorre do protagonismo da segunda safra, que passou de “safrinha” a responsável por 75% da produção brasileira do cereal. “Mas uma quebra no Rio Grande do Sul pode reduzir estoques e dificultar as coisas até a entrada da segunda safra”, diz.
A StoneX, que em dezembro calculava a produção gaúcha de verão em 5,4 milhões de toneladas, cortou ontem a previsão para 3,5 milhões. “E precisa chover neste mês para que os atuais patamares de produtividade se mantenham”, afirma o analista João Baptistini. Segundo ele, a quebra deverá apertar o balanço de oferta e demanda, mas dificilmente faltará milho no país. “A safrinha de 2021/22 foi muito boa”, lembrou.
De acordo com a Conab, tem chovido pouco e de maneira irregular no Rio Grande do Sul. Neste mês, “a condição hídrica se agravou, ampliando a restrição em quase todos os cultivos de grãos”, relata boletim de monitoramento agrícola da estatal. A Emater gaúcha informou na semana passada que a situação é mais grave no oeste do Estado.
Na região de Ijuí, por exemplo, 65% das plantações estão em estágio de enchimento de grãos e foram severamente prejudicadas pela persistente falta de chuva. De acordo com a Emater, as perdas vão de 30% a 100%. Em Santa Rosa, o baixo volume de precipitações, os ventos constantes durante as noites, a alta insolação e as temperaturas elevadas também afetaram parte das lavouras. Estima-se perdas de 25% a 70%.
“Apesar do retorno das chuvas, elas são extemporâneas. As plantas já ultrapassaram os estádios de definição da produtividade, restando apenas o final do enchimento de grãos e a maturação. As perdas já estão consolidadas”, afirma a Emater, em nota. Produtores gaúchos já estão recorrendo ao Proagro ou ao seguro rural para amenizar as perdas econômicas.
Segundo a Emater, o corte de lavouras para produção de silagem está avançando, em alguns casos de forma emergencial para aproveitar a massa vegetal produzida. “Mas há perdas na produtividade e na futura qualidade do alimento conservado. Na Fronteira Oeste, o prejuízo ao potencial produtivo das lavouras é expressivo, e as chuvas devem interferir de forma menos significativa”.
Com as perdas, o Rio Grande do Sul deverá perder para Minas Gerais o título de maior produtor de milho verão – até agora, por diferença de 60 mil toneladas, projeta a Conab. Mas vale lembrar que a previsão ainda é de colheita 76,8% maior que a de 2021/22, quando a seca provocou uma quebra bem mais severa.
O Paraná, que deve continuar como o terceiro maior produtor brasileiro, com 3,39 milhões de toneladas, conforme a Conab, também enfrenta problemas com a estiagem. O Departamento de Agricultura Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Paraná alertou, em boletim, que a irregularidade das chuvas e as altas temperaturas têm comprometido as condições das lavouras no oeste e no centro-oeste do Estado nos últimos dias. “Mas a previsão de precipitação para os próximos dias deve ser favorável ao desenvolvimento”, realça.
Agora, as plantações em boas condições são 79% do total, uma queda de três pontos percentuais em sete dias. Outras 18% estão em situação regular (+2 p.p.) e 3% apresentam qualidade ruim (+1 p.p.). Ainda assim, a situação está melhor do que no ano passado, quando nesse mesmo período apenas 35% das lavouras estavam em boas condições. Em 2021, os paranaenses colheram 2,99 milhões de toneladas de milho na primeira safra.
Fonte: Valor Econômico
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